Ontem precisei de imprimir mais uns documentos e como não tenho impressora em casa, andei à procura de um sítio barato nas redondezas. Entrei numa loja de cópias e depois de ser atendida fiquei à conversa com o senhor, que dizia também ter descendência portuguesa.
Eu que nunca fui de dar conversa a desconhecidos, aqui dou trela a toda a gente. Já fiquei a falar da vida com uma miúda daquelas campanhas de solidariedade que me abordou na rua, com um senhor na caixa do supermercado, com a menina do stand de maquilhagem do shopping, ... Enfim, devo-me sentir tão lonely que qualquer pessoa que me dirija a palavra consegue a minha atenção.
Mas voltando à loja das fotocópias, conversa para cá conversa para lá, "então o que é que fazias em Portugal"...e quando disse que era designer, o senhor pergunta-me se queria um trabalho.
"Claro que sim", respondi eu sem perceber que aquilo era uma oferta. Então deu-me um cartão e disse-me que passasse por lá com o meu portfolio.
Deixei um dos currículos que trago sempre na mala, agradeci e despedi-me, incrédula. Não queria acreditar que depois de tanto procurar me aparecia uma oportunidade assim de mão beijada.
Hoje peguei no portfolio e voltei à loja. Desta vez já não achei tanta piada à conversa, apanhei uma seca de 2 horas e meia, que o homem não se calava. Pelo meio da "entrevista" atende o telefone e percebi que era alguém a cobrar uma dívida, pois o senhor dizia que pagava no dia tal, mesmo que não pudesse pagar tudo dava o que tinha. Oh God, só me saem é duques...
Depois do telefonema confirmou-me que estava com dificuldades nalguns pagamentos, que queria ter uma pessoa na loja para ter tempo de divulgar melhor o negócio, que tinha muito potencial e blablabla... Então queria uma ajuda na loja, mas só umas 2 manhãs por semana e eventualmente podia arranjar-me uns trabalhos de design. Ficou combinado ligar-lhe no sábado para ir aprender a trabalhar com as máquinas. Mas sinceramente, o entusiasmo inicial transformou-se em desconfiança e já não sei se me apetece...
Vou para apanhar o autocarro, já atrasada para o curso à conta do paleio do senhor das fotocópias, quando uma velhinha me pede para ver no horário a que horas passava o 352. Nesse preciso momento em que estava de costas, o meu autocarro passou e eu não o vi. Eu que pensava que as boas acções eram recompensadas...afinal parece que não.
A seguir recebo um telefonema para ir a mais uma entrevista amanhã. O que será que vai sair desta? Aguardam-se as cenas do próximo episódio...
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